Dormimos bem e por volta das 10 horas começámos a preparação. O Sr. Valle-Domingues, o Sr. Saragoça e eu íamos competir à uma da tarde em escalões diferentes.
Alongámos, aquecemos, stressamos, projectámos e sei lá mais o quê que ámos...só sei que foram dos momentos mais angustiantes de toda a minha história no Taekwondo.
Eu sabia que ia apanhar, pelo menos, 4 competidores dos "top 10" e outros tantos campeões nacionais e regionais.
A verdade é que apanhei um escalão fortíssimo com 16 competidores de topo...e mais do que 4 eram ou já foram dos "top 10".
O Sr. Saragoça e o Sr. Valle-Domingues começaram antes de mim e, estando eu a competir, ia sabendo das suas fortunas e azares.
Fiquei logo a saber que o Sr. Saragoça tinha ficado com o 3º lugar em pumsaes!!!
Pouco tempo depois, vinha a saber que o Sr. Valle-Domingues tinha obtido o 2º Lugar em pumsaes!!
Aqui já eu estava mais do que babado! Os dois alunos que foram comigo para os mundiais, dois dos cintos pretos que eu instrui, acabavam de obter lugares de pódio no campeonato do mundo!!!
E depois...o Sr. Valle Domingues ganha 5 a 0 o primeiro combate! razia!
E...5 a 0 o segundo combate!!! razia de novo...
E aí, fui eu fazer a minha pumsae de 3º Dan. Estava inspirado...senti cada movimento como se fosse o último, final e início de tudo, focado e concentrado, percorri o caminho com dedicação e foco. Dei o melhor que tinha e que sabia.
Fui o 3º a fazer, ou seja, para quem não sabe, estava naquele primeiro grupo que define o nível geral da pontuação para todo o escalão. Os 3 primeiros da categoria fazem as pumsaes e as notas só são distribuídas quando o 3º terminar. A partir daquele momento, cada competidor é pontuado directamente.
Fiquei com a melhor pontuação dos 3.
Mas lá para o meio do escalão parece-me que os juízes se esqueceram da bitola inicial e lá começaram a pontuar melhor outros competidores.
No final, obtive um simpático 4º lugar em pumsae. Foi bom mas penso que o 3º era merecido.
Mas não me preocupo nada! fiquei sorridente e feliz com a minha prestação. A verdade é que estava a competir com atletas que treinam 2 a 5 horas por dia, todos os dias da semana...há que por o Ego onde ele cabe...
E então começou o combate...os nervos apertaram e seguram toda a leveza e agilidade que eu poderia ter. Em cada perna sentia um tronco de árvore e o chão fugia-me dos pés.
O primeiro combate, muitas vezes decisivo, foi ganho a custo. Estava com bastante receio de falhar e de errar estupidamente pelo que optei por ser mais calculista, desperdiçando boas oportunidades de brilhar mas, no final, vencendo.
e, mais solto, lá fui eu subindo na minha categoria até chegar a um ponto terminal, em que tive que me defrontar contra um gorila de 95 kg, com muita flexibilidade e força. Senti-me a ser esmigalhado, senti-me algo patético e amador...não soube o que fazer para vencer esse obstáculo, o que mostra que ainda tenho de treinar mais e melhor.
No final, saí com um 3º Lugar em combates!!! Fiquei lado a lado com o Cesar Ravedutti, um brasileiro que se tornou amigo e "coach" durante o torneio...campeão do mundo, por sinal.
Quanto ao Sr. Reyes, ele fez juz ao Dan que carrega e à posição que tem entre nós.
Não venceu qualquer medalha. Porém, venceu a muitos na atitude que demonstrou.
Durante o seu segundo combate, o Sr. Reyes deu um pontapé martelo prolongado e, na fase final do mesmo, o jelho de apoio cedeu e dobrou para dentro, torcendo os ligamentos cruzados anteriores.
O Sr. Reyes caiu no chão moído em dor e, contorcendo-se para não exaltar um berro, procurou mexer a perna de novo. Corri logo para o seu lado para ajudar no processo com os enfermeiros que já tinham chegado.
Minutos depois, o Sr Reyes voltou a por os protectores e, coxeando severamente, prosseguiu o combate.
Combate que venceu.
Apoiado numa só perna, prosseguiu para o próximo combate e, para minha grande dor, seguiu no combate até ao fim.
Sim, perdeu o combate, mas "venceu" o torneio pela atitude que teve.
Só para verem a gravidade da lesão, o Sr. Reyes foi levado de cadeira de rodas para o jantar!
Pois é...como dizia o meu avô ao meu pai e o meu pai a mim, não é dos fracos que reza a história!
E assim foi.
Duas semanas depois, após uma viagem única pelo universo do Taekwondo Songahm mundial, aprendendo com os Mestres mais graduados e convivendo com competidores dos quatro costados do mundo, estes 4 portugueses voltam com algo nas mãos e muito no coração.
E isto só foi possível porque houve quem me apoiasse...
Obrigado a todos os que me ajudarama realizar este meu sonho! Obrigado a todos quanto acreditaram que éramos capazes, mesmo quando nós o duvidámos.
Obrigado aos que, mesmo desconhecendo a Arte por completa, acreditaram que era importante esta vinda.
Obrigado à Abreu Advogados pelo apoio,
Obrigado aos colaboradores da Abreu Advogados que deram o seu apoio pessoal,
Obrigado aos meus alunos pois são eles a minha inspiração.Obrigado aos meus alunos mais graduados pois são os meus pilares,
Obrigado aos Instrutores que ensinam em Portugal, em especial aos do Conselho de Instrutores, pois eles foram, e são, os meus Instrutores.
Obrigado ao meu Professor por me ter dado de si esta oportunidade, por me ter mostrado o Taekwondo Songahm e todo o caminho que ele oferece, por me ter mudado a vida e por ter acreditado em mim ao longo de todos estes anos.
Obrigado à Rafaela pelo apoio que me tem dado e por tudo o resto,
Obrigado à minha família por admirarem, ainda que de longe, mas bem de perto, esta minha cruzada,
Obrigado à Nia por não ter desistido,
Obrigado a todos,
Venha o futuro do Taekwondo Songahm em Portugal pois estamos preparados para ele e com as bases necessárias para chegarmos ao melhor nível mundial.
Parabéns a todos.
Parabéns, em especial, aos meus dois alunos e amigos, o Sr. Valle Domingues e ao Sr. Saragoça. É um orgulho ser vosso Instrutor.
Parabéns ao Sr. Reyes por tudo o que desenvolveu em Portugal...
